A vida é preciosa

A vida é preciosa. A vida é preciosa. A vida é preciosa.

Confesso que ao ouvir ou proferir esta máxima na primeira vez acredito reter dela algum sentido, mas depois da segunda vez começo a duvidar que ela realmente signifique em meu coração a sua plena realidade.

E pergunto-me: A existência é preciosa ou são a ignorância e a incerteza do porvir que me fazem temer perdê-la?

Gosto de crer que há um porvir, que há Deus, mas minhas crenças, pela natureza fluida que é própria das idéias, nunca superam a vivacidade do que experimento. Minhas crenças orientam a interpretação da minha experiência, mas deixam claras as fronteiras do que parte de mim e do que me é imposto pela realidade exterior. Elas me confortam e me fortalecem, contudo não sanam o dilema.

A vida é preciosa.

Valorizo as vidas dos que amo. E para protegê-las não temo perder a minha, pois elas dão maior significado e maior importância à minha própria existência. Contudo o viver não é constituído somente dessas provas e me falta saber o real valor de existir. Sinto assim o tédio ameaçando ser o troféu da longevidade, desafiando a tolerância e a resistência quando os anos tiverem arrastado a energia da juventude. Recebo de bom grado o convite dos superficiais prazeres sensoriais, laborais e intelectuais que embriagam à guisa de amenizar as angústias.

A vida é preciosa.

 Será que sei agora tudo o que há para saber? Se é assim, então a vida não vale a pena. Não há esperança.

No entanto, o simples fato de me flagrar, ainda que movido pela indignação, julgando uma única vida merecedora de ser interrompida me diz que ainda me resta muito a aprender. E que reside a me aguardar em algum lugar no vasto universo de minha ignorância o significado libertador, amplo e sublime do existir.

Por hora, reconheço-me portador deste legado de Deus, que me possibilita ser testemunha das inumeráveis maravilhas que se desdobram diante dos meus olhos até o infinito, desde o ínfimo ao incomensurável. E este testemunho já é um milagre em si. E que me exige apenas ser capaz de continuar a viver.

A vida é preciosa.

Autor: Sérgio Mendonça - Itanhaém/SP