A culpa não é sua

Oi mãe, você deve estar se perguntando o porquê desta carta, mas você logo entenderá minha querida mãe.

Me lembro quando era pequena e me machucava, a senhora vinha com seu remédio e seu carinho, parecia que o machucado já sarava na mesma hora, era algo incrível mãe, funcionava mesmo.

A senhora sempre se esforçou para dar o melhor para mim e para o João, trabalhou muito depois que o papai nos abandonou, eu reconheço isso, sei que não foi fácil, a senhora deu o melhor de si, horas de trabalho dando plantão no hospital, pensando em como estaríamos em casa, mas sempre deu tudo certo né mãe?!

Mas eu cresci, e os meus problemas também, eu casei, tive um casal de filhos,  mas a oscilação do meu humor atingiram meu casamento,  a separação foi inevitável, e o pior, perdi a guarda das crianças, meus filhos, mas mesmo assim a senhora ficou do meu lado mãe, como sempre.

Fui internada, saí, voltei, meus filhos sofreram muito, a Clarinha está até fazendo terapia por causa disso, mas a senhora ficou do meu lado mãe, como sempre.

Perdi meu emprego, um emprego que eu me esforcei muito para conquistar, aliás fiz faculdade de psicologia para entender mais a doença, e poder ajudar as pessoas, quando fiquei sem ter para onde ir, a senhora me recebeu em sua casa.

Porém o mundo se tornou muito pesado para mim mãe, e a senhora não conseguiu entender isso, talvez por sua idade, aliás, é difícil das pessoas entenderem mesmo, fui no fundo do poço, e a senhora não me ajudou a sair dele. A senhora desistiu de mim mãe, a única pessoa neste mundo que não poderia fazer isso comigo, mas a culpa não é sua, pois até eu desisti de mim mesma.

Quando não há mais porque lutar, não há motivos para viver mãe, pode me chamar de covarde, sei que sou, mas esta é minha escolha.

Saiba que a culpa não é sua, nunca foi e nunca será.

Com amor.

Cláudia.


(este conto em forma de carta é uma ficção, qualquer semelhança com alguém da vida real é mera coincidência)